22 de mar. de 2015

Jack Bruce & Robin Trower


Two legends, one hour of fearsome axe-wielding! 

Essa é uma parceria que sempre teve tudo para dar certo. O escocês Jack Bruce teve importantíssimo papel na criação do blues rock (e depois, do hard rock e do heavy metal) inglês, tendo participado do Blues Incorporated (de Alexis Korner) e do Graham Bond Organisation, bandas nas quais tocou com o baterista Ginger Baker, que viria a ser seu parceiro no Cream algum tempo depois. Tocou também no John Mayall’s Bluesbreakers, onde conheceu o guitarrista Eric Clapton, que completaria a formação do Cream. Antes mesmo de montar o chamado “primeiro dos supergrupos”, teve tempo ainda de participar da banda do tecladista Manfred Mann, ou seja, esteve envolvido com o “crème de la crème” da cena musical inglesa dos anos 60. Com o Cream, que teve carreira tão meteórica quanto avassaladora, simplesmente revolucionou o rock, abrindo espaço para os deliciosos excessos dos anos vindouros. Depois disso, lançou uma penca de discos solo brilhantes (dos 3 membros do Cream, era na minha singela opinião o mais criativo e talentoso), e formou outros trios memoráveis como o West, Bruce & Laing (com os membros do Mountain Leslie West e Corky Laing) e o BBM (que incluía Gary Moore e Ginger Baker). Já o inglês Robin Trower não ficou muito atrás. Tendo integrado no final dos anos 60 o Procol Harum, participou dos álbuns que forjaram o rock progressivo, do qual o Harum é certamente um dos pioneiros (junto a The Moody Blues, The Nice e, um pouco depois, o King Crimson). Com eles, gravou os discos mais clássicos, tendo saído da banda em 1972. A partir daí, lançou uma série de discos sob a égide de Robin Trower Band, dentre os quais se destacou “Bridge of Sighs”, de 1974. Seu timbre na guitarra (obviamente, uma Fender Stratocaster) foi sempre comparado ao de Jimi Hendrix, sendo até mesmo chamado em determinados pontos de sua carreira de “o Hendrix branco”. De fato, sua habilidade em tirar timbres recheados de influências combinando blues e psicodelismo tinham, e têm, muito do estilo de Jimi. Os caminhos de Trower e Bruce se juntaram pela primeira vez no começo dos anos 80, quando se reuniram para gravar o disco “B.L.T.”, que apresentava um power trio completado pelo baterista Bill Lordan. Um disco muito bom, apesar da sonoridade (mais tarde, datada) que viria a vingar nos anos 80 já estar dando suas mostras no trabalho. Na sequência, lançaram “Truce” em 1982, trocando o baterista por Reg Isidore, sendo que nesse segundo disco não conseguiram manter o mesmo pique, e a reação da crítica e do público não foi das mais positivas. Afinal, seu estilo incorporou elementos de funk e soul, com mais “groove”, o que fugia ao som original dos envolvidos. 


De qualquer forma, em 2008 os dois se reencontraram, mais de 25 anos depois, para gravar mais um trabalho. Após os graves problemas de saúde que enfrentou em 2003/2004, quando sofreu um transplante de fígado e quase faleceu, Jack Bruce parece que embarcou num ritmo de extrema produtividade e criatividade. Após uma breve reunião do Cream (e boatos sobre outra reunião, do West, Bruce & Laing), Bruce e Trower finalmente entraram no estúdio e registraram o ótimo “Seven Moons”, junto ao baterista Gary Husband, antigo companheiro de Bruce em outras empreitadas. Sem sombra de dúvidas, o melhor disco gravado pela dupla até agora. Legitimamente um trabalho cooperativo, o talento de ambos transborda de forma totalmente balanceada no decorrer do álbum. É nitidamente um trabalho lançado sem pressões de gravadoras, sem a necessidade de “ter que vender”. Todas as faixas são boas, alternando momentos mais rápidos, “uptempo”, com outros mais arrastados, “midtempo”, e ainda algumas baladas introspectivas e reflexivas compostas em tom menor, com letras certamente influenciadas pelo momento atual de Bruce, que as canta de forma praticamente confessional. Este é o caso de, por exemplo, “Just Another Day” e “I’m Home”. É interessante notar que Jack não utilizou, como de praxe, as letras de Pete Brown, seu parceiro de longa data. O mesmo pode ser dito de Robin, que tem em Keith Reid seu principal letrista. No presente caso, tal trabalho ficou também a cargo da dupla Bruce/Trower. Os solos e bases de Trower no disco são de uma precisão absurda, com notas na medida certa e distorção idem. Poucos guitarristas hoje em dia tocam com tanta classe, unindo originalidade e personalidade com as modernas técnicas de gravação, num estilo ao mesmo tempo limpo e com boas doses de efeitos. Em “Close To Me”, o uso do pedal wah-wah chega a emocionar, um toque de mestre. O som do baixo está um pouco mais no fundo do que de costume, em se tratando de um disco com participação de Jack, mas mesmo assim há ótimas passagens. A bateria de Husband, por sua vez, está excelente como sempre, mesmo sem ter grande destaque específico. Não há músicas de destaque, pois o álbum é muito coeso, todo no mesmo (alto) nível. Para escolher duas, posso citar a empolgante “The Last Door” e o bluesão “Bad Case Of Celebrity”, que são daquelas de arrepiar. O que talvez faça falta no disco, como um todo, sejam algumas partes com solos estendidos, tradicionais dos trabalhos pregressos de ambos, mas o que parece é que provavelmente tenham deixado isso para as apresentações ao vivo, que por sinal já estão sendo marcadas agora em 2009 (vamos torcer para que sejam devidamente registradas em vídeo!). Dessa forma, o enfoque foi nas composições, e nisso eles se saíram muito bem. Enfim, não apenas um disco de rock clássico, mas acima de tudo um disco de rock feito com muita classe.

Tracklist:
1. Seven Moons
2. Lives Of Clay
3. Distant Places Of The Heart
4. She's Not The One
5. So Far To Yesterday
6. Just Another Day
7. Perfect Place
8. The Last Door
9. Bad Case Of Celebrity
10. Come To Me
11. I'm Home

Websites:
http://www. jackbruce.com
http://www.trowerpower.com







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