Uma trilha sonora sempre vai bem e ainda mais qdo vista pelos olhos de outra pessoa que não um lobo estepario como este que vos dedilha, então vamos ao presente da Lucy pra alcatéia.
Desde que o mais amado e odiado dentre os neuróticos novaiorquinhos tirou o foco de sua câmera das ruas de Manhattan e começou a filmar na Europa, em meados da década passada, Woody Allen deu um novo sopro de vida à carreira já premiada e consagrada.
De todos estes filmes ambientados em cidades europeias como Londres, Paris e Roma, "Vicky Cristina Barcelona", de 2008, tem um apelo especial. O filme faz um passeio e tanto pela capital catalã. Tem-se a sensação de acompanhar as personagens a todo momento e, em muitas cenas, a cidade toma mesmo o papel de protagonista, é como se estivéssemos lá. E a música...
A música já recepciona Vicky e Cristina quando elas desembarcam em Barcelona. Sob um vento quente de sol, temos um lampejo de cor, com o painel de Miró que fica do lado de fora do aeroporto, e uma intrigante canção completa a cena a não deixar dúvidas: as férias de verão prometem.
Em menos de cinco minutos de filme, o som das guitarras espanholas se insinua com intimidade brutal, enquanto a câmera devassa o absorto olhar de Vicky, tão escuro e cheio de brilho quando a noite ao redor dela. É o suficiente para que qualquer pessoa interessada em música queira saber o que mais essa trilha sonora reserva -- e ela não desaponta, assim como a beleza do olhar que o diretor acabou de por a nu.
Um minutinho mais e você vai saber se quer seguir com o filme ou não, porque todo o enredo é introduzido logo em seguida com a entrada em cena de Juan Antonio, aos seis minutos e pouco. A mim, "Vicky Cristina Barcelona" não apenas não desapontou, como foi surpreendente e rendeu até boas risadas em meio a uma conturbada e forte trama de emoções.
-- Look, señor, maybe in a different life!
-- Why not? Life is short, life is dull, life is full of pain and this is a chance for something special.
-- Right. Who exactly are you?
A cantada é como um exocet turbinado: sem rodeios e direto ao ponto, mas com a dose certa de desapego. É o discurso blasé, e não o convite em si, que é tão desconcertante e efetivo. Déjà-vu pouco é bobagem.
Juan Antonio é a personificação de muitos homens com sangue quente, de origem latina, mais comum do que se possa imaginar a princípio. Ao mesmo tempo em que são o assunto da cidade, ninguém os conhece de fato. É que suas personas sociais (como pais, tios, primos, profissionais, maridos, vizinhos, filhos, padrinhos, amigos de bar) são fortes e dominantes, enquanto aquilo que se passa nos seus corações e desejos é uma terra de ninguém que eles anseiam por compartilhar e submeter à dura prova do amor incondicional com outro DNA. Dito de outro modo, eles são conhecidos pelos papéis sociais que exercem, mas não pela essência, quando tudo que eles querem é justamente o oposto. E assim eles valseiam como pavões discretos: Juan Antonio na primeira cena do filme e Juan Antonio na última cena do filme são, voilà, o mesmo homem.
Vicky irá conhecê-lo apenas en passant e vai pagar caro por isso. Vicky é um barquinho a deslizar entre o rumo certo e o planejado. Juan Antonio é a tempestade.
A platinada Cristina irá conhecê-lo com um pouco mais de intimidade, visto que ela vai morar com ele. Em meio à excitação de dividir a vida e a cama com este homem que lhe parece tão exótico e diferente de tudo que ela já conheceu, Cristina ignora o fato de que ela é uma escolha pouco mais que conveniente, do tipo "por que não". Mas o embrulho de presente que Juan Antonio faz tão habilmente deixa tudo com uma atmosfera de sonho para ela. O timing do encontro é perfeito. Cristina estava disponível e bem na sua frente: belas curvas, logo ali. Juan Antonio tinha fome. It's a done, done deal.
Tudo vai bem: rotinas alinhadas, risos e olhares de cumplicidade entrecortam o tédio durante o dia, as noites são perfeitas. Cristina e Juan Antonio começam até a ensaiar um envolvimento além dos lençóis e da superficialidade mundana das coisas que eles têm em comum.
Até que Maria Elena deixa de ser apenas um nome que sai dos lábios de Juan Antonio a todo momento. Onipresente, ela finalmente entra em cena. Esteja ausente ou no meio das outras, Maria Elena é a única que vai conhecê-lo de fato e, justamente por isso, atormentá-lo a fundo -- e vice-versa.
Penélope Cruz domina a cena de tal forma como Maria Elena que só ela consegue rivalizar com a cidade que dá nome ao filme -- não à toa, ela levou o Oscar e o maior número de prêmios que já ganhou na carreira com um único papel. Maria Elena é tudo, menos uma coadjuvante.
A trilha sonora perpassa todos esses momentos com um mix eclético entre nomes consagrados (Paco de Lucía), conhecidos (Juan Serrano) e belas surpresas (Emilio de Benito, Juan Quesada, Biel Ballester Trio). Sem falar em Giulia y los Tellarini, uma banda indie de Barcelona que ficou com a canção tema do filme.
Não é uma trilha qualquer e nem esta é mais uma história sobre um triângulo amoroso. Seria previsível demais. É Woody Allen, que sai da calculada geometria de Manhattan para encontrar o sinuoso calor catalão. Quem decide o destino de Juan Antonio é o diretor ou ele mesmo?
"Vicky Cristina Barcelona", a trilha"
"Vicky Cristina Barcelona", o filme
http://www.youtube.com/watch?v=blg7tQmzESk
"Vicky Cristina Barcelona", pontos turísticos
Basílica de la Sagrada Família
La Pedrera
Fundació Antoni Tàpies
4gats
Iglesia de San Julián de los Prados
Camilo de Blas Pasteleria
El Gòtic
El Parc Güell
El Parque del Tibidabo
Museu Nacional d'Art de Catalunya
Les Rambles
Enjoy!!!!!!!!!!!!!!
11 de set. de 2012
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Dead,
ResponderExcluirJá vi este filme, muito bom.
A música, sinceramente, não me lembro de ter me impressionado.
Mas a capa do álbum é MARAVILHOSA...!
Abraço,
--zm